(Fonte: Manual de Cultivo Orquídeas - AOSP 2ª Edição)
Cultivar orquídeas vai se tornando um hábito.
Assim como tantas outras atividades que ajudam a desacelerar esta corrida sem freio que está se tornando a vida moderna, a orquidofilia vai ganhando espaço em muitas casas. Eu disse muitas casas, mas gostaria de dizer famílias, sim, porque um fato que hoje estamos percebendo é a necessidade de envolver a família, para que o tempo dedicado às orquídeas seja também um tempo de enriquecimento das relações familiares.
Uma criança que ganha uma planta valiosa e vai sendo incentivada pelos pais a tornar-se responsável por ela, acostumando-se a chamá-la pelo nome, acompanhando seu desenvolvimento, observando novas raízes, retirando folhas velhas, tratando das doenças, verificando se floresce na época certa, dificilmente deixa de se envolver, sentindo-se satisfeita de estar participando das atividades dos pais.
A paixão pelas orquídeas tanto pode gerar grandes colecionadores e comerciantes, como pequenos hobistas. Quase todos, porém, vão se interessar em desvendar os segredos desse mundo fascinante e aceitar seus desafios.
Um deles dói no bolso. Por falta de orientação, muita gente perde boas plantas compradas até em dólar. E aí decidem começar a estudar.
Mas não é fácil pesquisar sobre as orquídeas no Brasil.
A bibliografia é escassa e, na maior parte das vezes ou é extremamente especializada ou está em outras línguas, como inglês, japonês, chinês, espanhol etc.
Situando as orquídeas
A orquídea pertence a uma família de plantas subdividida em mais de 1.800 gêneros e cada gênero possui de uma a centenas de espécies. O número total de espécies oscila em torno de 35.000, espalhadas pelos quatro cantos do mundo. O gênero Isabelia, por exemplo, possui duas espécies. O gênero Cattleya possui cerca de 70 espécies.
E o gênero Bulbophyllum tem mais de mil espécies.
As orquídeas mais populares são dos gêneros (C) Cattleya, (L) Laelia (lê-se Lélia), (Onc) Oncidium (uma das espécies é conhecida como Chuva de Ouro), (Mit) Miltonia, (Den) Dendrobium, (V) Vanda, (Phal) Phalaenopsis (lê-se Falenópsis), (Paph) Paphiopedilum, conhecido como sapatinho (lê-se pafiopédilum).
Morfologia
A flor de uma orquídea é formada por três sépalas e três pétalas bastante desenvolvidas. As sépalas têm a função de proteger a flor em botão e, após desabrochadas tornam-se tão coloridas quanto as pétalas. As pétalas intercalam-se com as sépalas, sendo que uma delas se diferencia das demais na forma e coloração, recebendo o nome de labelo. O labelo tem a função de atrair os insetos polinizadores, garantindo assim a sua reprodução.
O órgão reprodutor de uma orquídea é constituído de quatro partes: Coluna, antera, estigma e ovário:
- Coluna ou Ginostêmio: órgão carnudo e claviforme que se projeta do centro da flor, resultado da fusão dos órgãos masculino (estame) e feminino (carpelo.
- Antera: contém os grãos de pólem agrupados em 2 a 8 massas chamadas de polínias.
- Estigma: depressão de superfície viscosa, orgão receptivo feminino onde são depositadas as polínias durante a polinização.
- Ovário: local onde se desenvolve a cápsula das sementes após a fecundação.
Quando ocorre a polinização, o estigma se fecha, a flor começa a secar e o ovário inicia a formação da cápsula. Na maior parte das espécies a cápsula com as sementes leva de 6 meses a um ano até o amadurecimento.
Cada cápsula pode conter até 500 mil sementes ou mais. Estas sementes são muito pequenas e constituídas apenas do embrião, ou seja, não possuem substâncias nutritivas de reserva para serem utilizadas na fase de germinação. Em contrapartida, têm alta capacidade de dispersão, pois são facilmente levadas pelo vento, garantindo assim a perpetuação da espécie.
Capsula madura de Cattleya
Nome das orquídeas
Os nomes das orquídeas são dados em latim ou grego clássicos, línguas mortas, para que sejam os mesmos no mundo inteiro e nenhuma língua viva prevaleça sobre a outra.
Assim, orquidófilos de qualquer parte podem trocar idéias sobre as orquídeas sem fazer confusão. E como, felizmente, continuam a ser descobertas novas espécies, existe uma equipe especializada, chamada de taxonomistas, que recebe o registro de cada nova planta e lhe dá o nome adequado, em latim, de acordo com a sua linhagem ou de acordo com algum detalhe que lhe seja característico ou, até latinizam um nome próprio dado à planta.
Pronúncia
A pronúncia também costuma oferecer dificuldades e há livros inteiros especializados no assunto.
Por exemplo:
- O conjunto de vogais ae lê-se e. Ex: Laelia (Lélia)
- O conjunto de vogais oe também tem o som de e . Exemplo: Coelogyne (Celogine).
- Ph tem sem de F. Exemplo: Phalaenopsis (Falenopsis).
- X tem som de CS. Exemplo: Xanthina (Csantina).
- Ch tem som de K. Exemplo: Chiloschista (KilosKista), Pulchelum (pulkelum), Chondrorhyncha (Kondrorrinka), Chocoensis (Kocensis), Ornithorynchum (Ornitorrincum).
- Ti seguido de vogal soa como ci, exceto quando precedido de s, t ou x.
Exemplo: Constantia, Neofinetia (Neofinecia), Bletia (Blecia), Comparettia (Comparetia), Pabstia (Pabistia).
Regras para escrever nomes de espécies
Os nomes de orquídeas obedecem a regras estabelecidas e podem, por exemplo, ser compostos de gênero, espécie, variedade e nome do clone, quanto tem características excepcionais ou, pelo menos, muito boas.
Exemplo: Cattleya labiata var. semi alba "Lucelia".
Vejamos como isto ocorre:
Se a planta acima for autofecundada, ou seja, Cattleya labiata var. semi alba "Lucelia" X self (ela própria), a prole não pode receber seu nome, pois dificilmente irá aparecer uma planta com características idênticas à da planta mãe.
Se a mesma planta for meristemada (clonada), a prole continuará recebendo o nome da planta mãe, inclusive o nome de batismo "Lucelia", porque uma planta meristemada, pelo menos teoricamente, é exatamente igual à planta mãe.
O nome do gênero (Cattleya) é sempre escrito em itálico e com inicial maiúscula.
O nome da espécie (labiata) é sempre escrito em itálico, mas com a inicial minúscula.
O nome da variedade (semi alba) é escrito com inicial minúscula, em itálico.
O nome de batismo do clone ("Lucelia") é escrito com inicial maiúscula, letra romana e entre aspas.
Os híbridos naturais, como são criados pela natureza, são tratados como espécies, valendo as mesmas regras acima, com a adição da letra X que é colocada após o nome do gênero.
Exemplo:
- Cattleya X dolosa (híbrido natural entre Cattleya walkeriana e Cattleya loddigesii).
- Cattleya X interguttata híbrido natural entre C. intermedia e C.guttata).
- Leliocattleya X shilleriana (híbrido natural entre L.purpurata e C.intermedia).
Classificação por Habitat
De acordo com o lugar de origem, as orquídeas são classificadas como Epífitas, Terrestres ou Rupícolas.
Epífitas: são a maior parte das orquídeas. Vivem grudadas em troncos de árvores, mas não são parasitas, pois realizam a fotossíntese a partir de nutrientes absorvidos pelo ar e pela chuva. Portanto, ao contrário do que se pensa, não sugam a seiva da árvore. (são apenas hospedeiras)
Oncidium pumilum ou Lophiaris pumila
em seu habitat.
Ibiúna, São Paulo
Terrestres: são as que vivem como plantas comuns na tera. Mas é uma porcentagem muito pequena em relação às Epífitas. Alguns exemplares mais cultivados são as Cymbidium, Phaius, Paphiopedilum, Arundina, Neobenthamia, Bletia. Apesar de plantas terrestres, aceitam muito bem o plantio em xaxim desfibrado.
Arundina bambusifolia,
chamada de orquídea bambú,
cresce na terra.
Rupícolas: são aquelas que vivem sobre rochas. Não vivem agarradas a uma pedra lisa, mas fixadas los liquens e folhagens decompostas acumuladas nas fendas e partes rebaixadas da pedra. Ex: Laelia kettieana.
Laelia kettieana florindo em seu habitat
(imagem google)
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